22/05/10

espelho


o espelho tem cumplicidades
que te reflectem
fazendo aguçar desejos, apetites e vontades
faz-te contar histórias de corpos aos pares
em olhares que se violam
em danças que se tocam
peles que deslizam
em suores de mãos que os percorrem
e depois se bebem
em beijos molhados
nos corpos transpirados

ao espelho, entregaste a tua inocência fingida
deixando que a outra, do outro lado
quase perdida
te penetrasse com dedos e língua
num reflexo imaginado
tocaste a outra
viste a tua mão percorrer-lhe os seios
sem rodeios
como se fossem teus
eram os teus seios nos dela
era a tua boca igual à dela
era o teu sexo beijando o dela
numa imagem tão bela
pousada na superfície fria do espelho

dualidades quentes-frias construídas
cumplicidades atraídas
que se tocando, não se sentiam.
que se beijando, não se mordiam
que se masturbando, em gémeos e apetecidos movimentos
só em ti provocaram escorridos
derramados em gemidos
à beira daquele espelho envergonhado

10/05/10

embrulhei-te




embrulhei-te em camisa minha
aos quadradinhos
para te roubar o cheiro
e em pedacinhos
a sentisses junto a ti
pedi que a sujasses
com as saudades que trazias
que a abraçasses
e a enchesses com toques
de pele onde me perco
e onde em cerco
te aconchego os sentidos
sobrando tecido em volta dos teus seios
cheios de sorrisos endurecidos


as mangas escondiam os dedos
que te afagavam os lábios
e eu, adivinhando as brincadeiras que fazias
desejava saturá-los de beijos molhados e mornos
desenhando mentalmente os seus contornos

semi-despida, semi-vestida
ias impregnando o teu perfume
aquecendo o lume
no tecido vermelho, cor de sexo
sem ordem, sem nexo
em cada quadrícula
colocavas um fragmento de ti:
um beijo a escorrer
um arrepio sem se ver
uma gota de prazer

ficaram pintados no gradeamento
perpetuando o momento
com pequenos bocadinhos que me deixaste trazer
hoje, quando morro de saudades
serro grades e liberto-te em cheiros
verdadeiros
que me envolvem
me comovem
e me bebem
hoje, quando morro de saudades
encho-me de vontades
incontidas
e jogo xadrez vermelho, às escondidas

25/04/10

esperando



esperando pela prenda
ia sonhando como criança
que aguarda por chegada de festança
imaginando presentes, contando dias, coleccionando insónias
aguardando cerimónias
enquanto na alma
se passeava a tua açucarada lembrança

de repente
em papel electrónico
enfeitado por laço com byte platónico
desenhada no meu monitor
encontrei-te assim
nua, para mim
linda, macia, sedosa
aguardando carícias molhadas
de uma língua ansiosa
dançando ao correr das madrugadas

foram invernos e verões imensos
delírios sofridos e intensos
securas que me matavam aos poucos
que colocavam os meus sentidos como loucos
e teimavam em nunca terminar
chegaste!
que bom que é voltar a beber-te devagar…

19/03/10

corpo de bem-me-quer



em pétalas desfolhei
o teu corpo bem-me-quer
são vermelhas de paixão
cor de sangue acelerado
em palpitar agitado
de perdido coração
enfeitam-te agora serenas
ficam-te bem, às dezenas
esperando pelas seivas
que em esperas pequenas
aguardam explosão

depois de te cobrir
pousam nos meus desejos
que se estendem a bailar
nos bocados do teu ser
que eu quero devorar
com beijos
com dedos
com pele arrepiada em segredos
que eu quero adivinhar

num recreio combinado
troco pétala encontrada
por beijo doce molhado
que nos alagando aos poucos
nos transforma os corpos loucos
em mar chão, encapelado

por fora, por dentro, caí
em vagas de maré-cheia
fui mergulhando em ti
afastando a orvalhada
que naquela madrugada
tu chovias excitada

foram mergulhos ternos
contornando as tuas ondas
foram mergulhos fraternos
buscando as profundezas
foram passeios imersos
entre as coxas em nudezas
foram espumas libertas
em entradas sincopadas
e em final lancinante
estremeceste cansada
apagando a madrugada
em meu oceano abundante

14/03/10

pairavas nua



bateste na vidraça da janela do meu quarto
sem ruído, ao de leve para me fazer sonhar
pairavas nua
envolvida pela luz ténue da lua
que te beijava o corpo, quase etéreo, a flutuar
um tímido fio de luar, escorria-te nos seios
transformando cada mamilo
numa estrela saliente
de brilhos cheios
pronta para me excitar

a tua língua aflorou à janela dos teus lábios
sorrateiramente, provocadora, sensual
deslizavas letal
e sorrias
porque sabias
que eu não ia acordar
não houve sexo, só excitação
não houve orgasmo, só contemplação
não te toquei
só te sonhei
e de manhã ao levantar
vi o teu sorriso
pousado no meu olhar...

04/03/10

os dedos



os dedos são sentidos em alertas
que percorrem as texturas do teu corpo
em habituais descobertas.
procuram arrepios, erotismos e sinais
que te levem a pairar por entre prazeres carnais
por caminhos que conheces
por labirintos que aqueces
e exploras de olhos bem fechados.
tacteias-te, com movimentos de contornos diferentes
com velocidades definidas em manuais ilustrados
em deleites imergentes
espalhados
numa aula só para mim.
os teus dedos beijam demoradamente lábios lindos
em gozos escorridos
molham-te com brilhos liquefeitos, reflectidos
nos meus olhos a morrer
esgotados
em ansiosos galopes nos caminhos que me fazem endoidecer.
espero destinos adivinhados
espero sorrisos aninhados
no meu peito
espero delicadamente pelos sabores oferecidos
por teus dedos que afagarão
a minha língua ávida de os percorrer

21/02/10

bailados transparentes



entras em vento de outono
molhada por chuva miudinha
entras assim, vinda de sul
e enrolas-te em cortina fina
que te acolhe como rainha
e te afaga a pele, com sinais de outubro.
as árvores já despidas
dançam com folhas amarelecidas
esperando quedas acrobáticas e suaves
em voos livres, carinhosos
de circos de invernos rigorosos.
assobiam ao ver-te aqui chegar
entoando sonatas que tu bebes
em bailados ondulados, transparentes
movimentos perfumados, cor de mar.
no palco da janela do meu quarto
exibes-te em peça improvisada
com monólogos de um corpo em madrugada
que explode em crescente excitação.
falas contigo
usando dedos expressivos
embalas os teus seios expectantes
que envergonhados, sorriem para mim
e sinto-me a beijá-los por instantes.
espreitam à boca desta cena
endurecidos por dedos finos que os moldam
tentam-me, de uma forma consistente
libertando em mim vontade quente
de provar a tua pele que ainda está morena.
uma lua cheia, de cenário
ilumina o teu sexo já molhado
escorrendo resultado apaixonado
de um primeiro acto solitário.
distingo no luar húmido em invasão
o brilho dos teus lábios, ao tocar
e tento adivinhar a perversão
que tens dentro de ti para me dar.
imagino actos futuros
congemino actos vindouros que desejo
inverto a ordem teatral
entro em cena, entrando em ti, em vendaval
e como se fosse uma “première”
tomo conta do teu corpo
com doces pancadas de Molière

20/02/10

prendes-me a ti



prendes-me a ti em teia transparente
de querer(e não querer)
colo-me em mel suado que escorres
enleio-me nos teus beijos de língua quente
derreto-me no calor envolvente
das noites quentes de verão
estreladas
saboreadas
lentamente prolongadas
por horas curtas, roubadas
aos tempos de solidão.
prendes-me com luvas rendilhadas de cinema
negras (de querer)
dedos lânguidos que provocam
espreitando
tocando
arrepiando
arranhando (por querer)
pele carente, ansiosa por te ter.
tenho-te na seda tecida
do lençol em desalinho
tenho-te aos pedaços
nos tempos que nos separam
nos tempos que se baralham
nos tempos de querer
(e não querer)
quando te tenho nos braços

pinto quadros no teu corpo



pinto quadros no teu corpo
projecto desejos nos seios
e lanço meus olhos tristes
nos deleites que me ofereces.
prolongo-me em devaneios
enrolo-me nos prazeres que teces
meigos, doces, muito cheios
morro em ti quando amanheces

moldo esculturas reais
nas curvas das tuas pernas
sempre que em solidão te invento
encontro o centro do mundo
onde ansioso me afundo
com as cores do teu talento
num trajecto em ti, profundo

a tua pele é papel
onde exprimo os meus quereres
em beijos de tons pastel.
experimento óleos quentes
nas texturas que pressinto
com excitações crescentes
com ternura e com instinto

apago, construo trilhos
com dedos em descoberta
dos pontos que num suspiro
anuncias em alerta

encontro vários por ti
espalhados em gemidos
expostos ou escondidos
por vezes alguns perdidos
nas palavras que te digo
e tonalidades gritadas
que acordam meus sentidos

o meu pensamento visitou-te


o meu pensamento visitou-te hoje
procurou e encontrou vestígios de ti

na cama desfeita do teu dormir
pousado, sentiu o teu prazer recente
quente, acabado de correr
perdeu por pouco o teu brincar
no corpo que deseja também tocar
perdeu o fechar dos teus olhos
e os gemidos que se escorrem devagar
num orgasmo solitário que acontece ao acordar

ousadamente, deslizou pela linha de luz
duma porta entreaberta
procurou-te numa fresta
e deliciou-se ao ver-te nua
imaginando ser sua
a mão que te afagava os seios