21/02/10

bailados transparentes



entras em vento de outono
molhada por chuva miudinha
entras assim, vinda de sul
e enrolas-te em cortina fina
que te acolhe como rainha
e te afaga a pele, com sinais de outubro.
as árvores já despidas
dançam com folhas amarelecidas
esperando quedas acrobáticas e suaves
em voos livres, carinhosos
de circos de invernos rigorosos.
assobiam ao ver-te aqui chegar
entoando sonatas que tu bebes
em bailados ondulados, transparentes
movimentos perfumados, cor de mar.
no palco da janela do meu quarto
exibes-te em peça improvisada
com monólogos de um corpo em madrugada
que explode em crescente excitação.
falas contigo
usando dedos expressivos
embalas os teus seios expectantes
que envergonhados, sorriem para mim
e sinto-me a beijá-los por instantes.
espreitam à boca desta cena
endurecidos por dedos finos que os moldam
tentam-me, de uma forma consistente
libertando em mim vontade quente
de provar a tua pele que ainda está morena.
uma lua cheia, de cenário
ilumina o teu sexo já molhado
escorrendo resultado apaixonado
de um primeiro acto solitário.
distingo no luar húmido em invasão
o brilho dos teus lábios, ao tocar
e tento adivinhar a perversão
que tens dentro de ti para me dar.
imagino actos futuros
congemino actos vindouros que desejo
inverto a ordem teatral
entro em cena, entrando em ti, em vendaval
e como se fosse uma “première”
tomo conta do teu corpo
com doces pancadas de Molière

20/02/10

prendes-me a ti



prendes-me a ti em teia transparente
de querer(e não querer)
colo-me em mel suado que escorres
enleio-me nos teus beijos de língua quente
derreto-me no calor envolvente
das noites quentes de verão
estreladas
saboreadas
lentamente prolongadas
por horas curtas, roubadas
aos tempos de solidão.
prendes-me com luvas rendilhadas de cinema
negras (de querer)
dedos lânguidos que provocam
espreitando
tocando
arrepiando
arranhando (por querer)
pele carente, ansiosa por te ter.
tenho-te na seda tecida
do lençol em desalinho
tenho-te aos pedaços
nos tempos que nos separam
nos tempos que se baralham
nos tempos de querer
(e não querer)
quando te tenho nos braços

pinto quadros no teu corpo



pinto quadros no teu corpo
projecto desejos nos seios
e lanço meus olhos tristes
nos deleites que me ofereces.
prolongo-me em devaneios
enrolo-me nos prazeres que teces
meigos, doces, muito cheios
morro em ti quando amanheces

moldo esculturas reais
nas curvas das tuas pernas
sempre que em solidão te invento
encontro o centro do mundo
onde ansioso me afundo
com as cores do teu talento
num trajecto em ti, profundo

a tua pele é papel
onde exprimo os meus quereres
em beijos de tons pastel.
experimento óleos quentes
nas texturas que pressinto
com excitações crescentes
com ternura e com instinto

apago, construo trilhos
com dedos em descoberta
dos pontos que num suspiro
anuncias em alerta

encontro vários por ti
espalhados em gemidos
expostos ou escondidos
por vezes alguns perdidos
nas palavras que te digo
e tonalidades gritadas
que acordam meus sentidos

o meu pensamento visitou-te


o meu pensamento visitou-te hoje
procurou e encontrou vestígios de ti

na cama desfeita do teu dormir
pousado, sentiu o teu prazer recente
quente, acabado de correr
perdeu por pouco o teu brincar
no corpo que deseja também tocar
perdeu o fechar dos teus olhos
e os gemidos que se escorrem devagar
num orgasmo solitário que acontece ao acordar

ousadamente, deslizou pela linha de luz
duma porta entreaberta
procurou-te numa fresta
e deliciou-se ao ver-te nua
imaginando ser sua
a mão que te afagava os seios